Depressão

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Sintomas e Tratamentos para Depressão, Distimia e Transtorno Depressivo Maior

A depressão é uma doença bastante comum, é a segunda doença que mais causa incapacidade pelo mundo, está associada a queda de produtividade, faltas no trabalho e tem um grande impacto que vai além da pessoa acometida, atingindo também a família, as relações sociais e a sociedade como um todo.

Um agravante ainda maior para a depressão, quando olhamos para o contexto de Brasil e São Paulo (SP), a ocorrência de depressão ao longo da vida foi de 18,4% em estudo multinacional realizado em 2011, ou seja mais de 18 pessoas em cada 100 vão ter ao menos um Episódio Depressivo ao longo da vida na cidade de São Paulo (SP), o que é um número bastante alarmante. Esse número é maior do que a média dos países desenvolvidos avaliados, com 14,6%, e do que de países em desenvolvimento, com 11,1%.

Quais os Sinais e Sintomas da Depressão e Transtorno Depressivo Maior

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Quinta Edição, o DSM-V da American Psychiatric Association (APA), os principais sinais (sinal é aquilo que é observado) e sintomas (sintoma é aquilo que é sentido) da Depressão, ou do Transtorno Depressivo Maior, são:

  • humor deprimido e/ ou tristeza na maior parte do tempo: a pessoa sente-se triste, vazia, sem esperança, chorosa.
  • diminuição na sensação de prazer nas atividades do dia a dia
  • perda de interesse em tarefas cotidianas
  • dificuldade para dormir ou excesso de sono
  • ganho de peso significativo ou perda de peso
  • pensamentos de negativos e de inferioridade
  • dificuldades na concentração
  • sentimento de culpa
  • pensamentos recorrentes de morte
  • cansaço e fadiga física

Ainda, para que seja definido o Diagnóstico de Depressão, pelo próprio DSM-V, é necessário que esses ao menos 4 desses sintomas depressivos estejam presentes por pelo menos 14 dias, devendo pelo menos um sintoma ser o humor deprimido, a diminuição de prazer ou interesse. Não existe uma ordem em que apareçam os primeiros sintomas de depressão, os sintomas podem ir aparecendo gradualmente ou começarem de maneira mais simultânea.

Como é de se imaginar pela variedade de sintoma depressivo descrita, os transtornos depressivos são diferentes, variando de pessoa para pessoa, se tratando muitas vezes de uma doença bastante heterogênea e muitas vezes subdiagnosticada.

Classificação da Depressão e Transtorno Depressivo Maior

O Psiquiatra, como médico especialista em Depressão, vai conseguir classificar a intensidade dos sintomas, que também é variável, podendo ser desde sintomas leves até sintomas mais acentuados e graves.

Diante dessa variedade na intensidade dos quadros o Transtorno Depressivo Maior pode ser dividido em Depressão Leve, Moderada ou Depressão Grave (ou Depressão Severa). Outros especificadores da Depressão podem ser a Transtorno Depressivo Recorrente, Depressão Psicótica, Depressão Atípica, Depressão Melancólica, que serão mais abordados na sessão de Perguntas e Respostas.

Ansiedade e Depressão

Como exposto acima e que pode ser visto na seção de Transtornos Ansiosos, Ansiedade e Depressão tem alguns sintomas em comum, como a dificuldade para dormir, a fadiga e dificuldade na concentração. Não é raro que ocorra a sobreposição de doenças psiquiátricas e que Ansiedade e Depressão, por exemplo, aconteçam em uma mesma pessoa, o que pode causar ainda mais impacto na qualidade de vida da pessoa.

Testes para Depressão

Alguns testes podem ser utilizados para rastreio da depressão ou mesmo para a avaliação da gravidade da depressão e são escalas clínicas como a escala de depressão de Beck, de teste de depressão de Hamilton ou o teste de MADRS (Montgomery Asberg Depression Scale). Não existe  até o momento nenhum teste laboratorial para o Diagnóstico da Depressão sendo esse feito a partir da avaliação clínica.

O que é a Distimia?

A Distimia, também conhecida como Transtorno Depressivo Persistente ou Depressão Persistente, é um quadro em que há presença de sintomas de depressão de manifestação crônica, por pelo menos 2 anos, e que não são graves para caracterizar um episódio de Transtorno Depressivo Maior.

A chamada Depressão Persistente geralmente é geralmente Crônica, tem início insidioso, muitas vezes na própria infância ou adolescência. O termo Distimia significa "mal-humorado", embora os indivíduos com o Transtorno Depressivo Persistente possam ter manifestações bastante heterogêneas.

Diagnóstico de Depressão e Transtorno Depressivo Maior

O Tratamento da Depressão e Transtorno Depressivo Maior envolve primeiramente a procura de auxílio de um psiquiatra, que é o médico especialista para fazer o correto Diagnóstico da Depressão e estabelecer um plano de tratamento individualizado para a cada pessoa.

Como explicado acima, a depressão pode ser um quadro bastante variado, muitas vezes constitui um desafio diagnóstico e o tratamento vai variar de acordo com a predominância de sintomas, neste quesito a importância de um profissional especialista para a escolha do correto tratamento.

Não existe um teste de sangue ou imagem para o diagnóstico de depressão, o mesmo é feito a partir da avaliação clínica.
Também, antes de se tratar a depressão o psiquiatra, como médico, vai investigar e afastar uma série de outras doenças que possam estar levando a estes sintomas, como por exemplo o hipotireoidismo, uma insuficiência cardíaca, o uso de medicações, e mesmo outros doenças psiquiátricas como um Transtorno de Ansiedade, um Transtorno de Pânico ou um Transtorno de Estresse Pós-Traumático, por exemplo, sabendo ainda que pode haver uma sobreposição de transtornos mentais como no caso da Ansiedade e Depressão.

Tratamento para Depressão e Transtorno Depressivo Maior

Uma vez estabelecido o Diagnóstico de Depressão um dos pilares do tratamento pode é o uso medicações, e muitas vezes lançamos mão dos Medicamentos Antidepressivos, que visam atuar a nível de Sistema Nervoso Central corrigindo alterações que levam à causa dos Sintomas da Depressão.

Serão abordados a título de informação algumas informações sobre medicamentos. Não faça uso de medicação sem prescrição médica.

O Tratamento pode ser dividido em 2 etapas: Fase Aguda e Fase de Manutenção.

Lembrando que não faça uso de medicação sem a avaliação e prescrição de seu médico. A automedicação traz riscos e pode agravar o quadro.

Fases do Tratamento da Depressão

Na Fase Aguda se busca a completa remissão dos sintomas, ou seja, fazer a pessoa sair da depressão e voltar a ter uma vida normal, como tinha antes. Importante é que seja iniciada a Fase Aguda assim apareçam os primeiros sintomas de depressão e que seja feito o seu diagnóstico, uma vez que isso aumenta as chances de sucesso do tratamento.

Já na Fase de Manutenção o objetivo é consolidar os ganhos estabelecidos na fase aguda e diminuir o risco de uma recaída de sintomas, e mesmo que o quadro se cronifique se tornando uma Depressão Crônica ou um Transtorno Depressivo Persistente.

A Fase de Manutenção tem duração que vai variar de pessoa para pessoa. Quando se trata de um primeiro episódio depressivo essa duração vai ser de 6 meses a 1 ano. Quando a pessoa já teve outros episódios prévios, como no Transtorno Depressivo Recorrente, essa duração vai ser ajustada de acordo com o caso em questão.

O uso de remédios só deve ser feito após a avaliação e prescrição de seu médico.

Melhora dos Sintomas da Depressão

Os efeitos dos remédios antidepressivos podem ser perceptíveis em algumas pessoas somente após alguns dias ou mesmo semanas, embora o início de ação no Sistema Nervoso Central seja imediato.

Como a depressão é uma doença que envolve alterações em regiões do cérebro, e que em geral são decorrentes de processos se estabelecem ao longo de semanas, meses ou mesmo anos, a reversão destas alterações que vai levar à remissão de sintomas pode não ser imediata embora desejássemos que fosse mais rápido.

Medicamentos Antidepressivos

A título de conhecimento serão descritas algumas medicações abaixo. O uso de qualquer medicação só deve ser feito com a avaliação e prescrição de seu médico.

Temos uma série de Antidepressivos disponíveis na prática para tratar a depressão, com mecanismos de ação e características individuais específicas. Serão abordados abaixo com a finalidade de informação alguns medicamentos antidepressivos. Não faça uso de medicação sem prescrição médica.

Dentre alguns nomes classe de antidepressivos temos a classe dos Antidepressivos Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS), a classe dos Antidepressivos Tricíclicos, classe dos Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSN), também chamados de Antidepressivos Duais, dentre outras.

Os Antidepressivos Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS) e os Antidepressivos Tricíclicos estão entre os nomes de antidepressivos comuns e utilizados por estarem disponíveis a mais tempo na prática clínica, e têm eficácia semelhante à de remédios antidepressivos mais modernos, sendo que o melhor antidepressivo para cada pessoa vai depender de uma indicação individualizada.

No começo do tratamento com qualquer remédio para a depressão algumas pessoas podem manifestar efeitos colaterais. Em geral os antidepressivos têm efeitos colaterais que são leves e transitórios, embora todos eles devam ser relatados ao seu psiquiatra para o melhor manejo.

Novamente, a automedicação traz riscos à saúde e o uso de medicamentos só deve ser feito com prescrição médica.

Avanços no Tratamento da Depressão

O Tratamento da Depressão está em constante avanço e novas opções de tratamento com medicamentos antidepressivos modernos e outros remédios para depressão estão sendo investigadas diariamente, como por exemplo a cetamina, a escetamina, e técnicas de neuromodulação como a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT ou TMS) e a Estimulação Cerebral por Corrente Contínua (ETCC ou tDCS).

Diante de todas essas alternativas novamente fica a importância da avaliação e seguimento por um psiquiatra, uma vez que a escolha do melhor antidepressivo e plano de tratamento vai ser estabelecida em avaliação clínica e reavaliações periódicas.

Não faça uso de medicação sem a avaliação e prescrição de seu médico.

Tratamentos Complementares da Depressão

Como somar forças ao tratamento medicamentoso e como algumas práticas podem ajudar a sair da depressão?

Algumas mudanças em estilo de vida podem ter esse papel, como a prática regular de Atividade Físicos, uma boa Higiene do Sono, a busca por atividade que sejam estimulantes e prazerosas, o apoio familiar de amigos e interações sociais são medidas que estão comprovadas como benéficas no auxílio do tratamento da depressão. Essas práticas são espécies de “antidepressivos naturais” e estão disponíveis para todos.

A associação do Tratamento à Psicoterapia pode ser bastante benéfica, uma vez que muitas questões psicológicas e comportamentais podem fazer parte da etiologia e causa multifatorial da Depressão, e a Psicoterapia é um espaço para essa elaboração, reflexões e auto-conhecimento.

A Psicoterapia pode ser feita pelo próprio psiquiatra, psicólogo ou mesmo outros terapêutas com formacão especializada. Existem diferentes técnicas de psicoterapia, como por exemplo a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), Psicodrama, Psicanálise e Psicologia Analítica.


Perguntas e Respostas sobre Depressão

Quais os sintomas da Depressão Atípica?

Na depressão atípica a pessoa pode apresentar melhora do humor diante de eventos ambientais, o que torna o seu diagnóstico mais difícil. Ainda, outras características estão presentes neste quadro como: Ganho de peso ou aumento acentuado do apetite ou mesmo perda de apetite com redução significativa de peso, sonolência diurna excessiva, sensação de peso nos braços e pernas, a pessoa pode ficar muito sensível aos outros, sensação de culpa excessiva.

Como é a Depressão Psicótica e o Episódio Maníaco Depressivo?

Na depressão Psicótica além dos sintomas depressivos a pessoa apresenta um significativo prejuízo no juízo de realidade e/ ou nos sentidos, apresentando quadro de delírios, que são pensamentos e idéias fixas e não compartilhadas que não cedem a uma argumentação lógica, por exemplo de que a comida está envenenada ou de estar sendo perseguida.

As alucinações por sua vez são prejuízos nos sentidos e percepção do mundo, e nesses quadros a pessoa pode ouvir vozes que outros não ouvem ou mesmo ver imagens e vultos que não estão presentes ou sejam vistos por outros.

Já o episódio maníaco depressivo é a nomenclatura antiga quadros de transtornos afetivos que cursam com psicose e transtornos de humor, como a depressão e a euforia.

O que é a Depressão Melancólica?

Na depressão Melancólica, por vezes chamada de Depressão Profunda, além dos sintomas depressivos a pessoa apresenta uma prostração profunda, desespero, morosidade; os sintomas da Depressão Profunda são piores pela manhã e muitas vezes a pessoa com Depressão Melancólica acordam muito cedo. Pode ser ainda caracterizada por uma acentuada agitação ou retardo psicomotor.

O que causa a Depressão Sazonal?

A Depressão Sazonal faz parte dos chamados Transtornos Afetivos Sazonais e tem sua ocorrência coincidente com algumas estações do ano. O quadro da Depressão Sazonal é mais comumente relacionado ao começo do inverno, embora possa acontecer também na primavera-verão.

Os sintomas são semelhantes ao de outros quadros de depressão e sua causa ainda não é bem conhecida, algumas hipóteses apontam para alterações no ritmo circadiano ou na própria retina.

Qual a manifestação do Transtorno Depressivo Recorrente?

O Transtorno Depressivo Recorrente é caracterizado pela presença de mais de um episódio de depressão ao longo dos anos. Nesse quadro a pessoa após apresentar melhora total dos sintomas da Depressão volta a apresentar novo episódio depressivo.

A Depressão tem Cura?

Com o correto diagnóstico e instituição precoce de tratamento a depressão pode ter "cura", que chamamos de remissão, e a pessoa levar uma vida normal, sem uso de qualquer medicação após a resolução do episódio depressivo e fase de manutenção do tratamento.

A combinação do tratamento medicamentoso com mudanças em estilo de vida, que são potentes "antidepressivos naturais", são potencializadores do tratamento que auxiliam na remissão de sintomas, a cura da depressão.

Não faça uso de medicação sem a avaliação e prescrição de seu médico.

O que é a Depressão Refratária?

Em alguns casos a depressão pode ser resistentes ao tratamento, também chamada de Depressão Refratária, e diferentes combinações de antidepressivos e técnicas são associadas para se tentar levar à remissão do quadro.

Não faça uso de medicação sem a avaliação e prescrição de seu médico.

Como saber se tenho depressão?

Muitas vezes uma pessoa que está com depressão não consegue perceber os seus sintomas ou ter energia para procurar ajuda. A depressão não é "frescura" como muitos ainda infelizmente pensam. A depressão é uma doença que envolve alterações a nível de sistema nervoso central e que se não tratada pode evoluir para piora progressiva do quadro.

Assim, caso você tenha algum sintoma depressivo, procure auxílio de um especialista. Caso você perceba que algum amigo ou ente querido apresente sintomas depressivos, como você pode ajudar? Marque para essa pessoa uma consulta com um psiquiatra e você vai ajudar essa pessoa a sair da depressão.


REFERÊNCIAS

Bromet E et al. Cross-national epidemiology of DSM-IV major depressive episode. BMC . 2011 Jul 26;9:90. doi: 10.1186/1741-7015-9-90.
Sadock B, Sadock V, Ruiz P. Kaplan & Sadock Compêndio de Psiquiatria. 11a edição. Artmed, 2017.
American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM. 5 ed. Washington D/C, 2013.
Cavenaghi VB et al. Non-invasive brain stimulation in clinical practice: update. Arquivos Médicos dos Hospitais e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (Online), v. 58, p. 29, 2013.


Médico Especialista em Depressão e Distimia SP - Dr. Vitor Cavenaghi

O Dr. Vitor é Médico Especialista em Psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, IPq - HCFMUSP, onde realizou sua residência médica e atua como médico assistente e pesquisador clínico. Nos últimos anos tem acompanhado a muitos pacientes com depressão e distimia, o que motivou seu crescente interesse pela área. Atualmente o Dr. Vitor estuda a depressão, com enfoque em casos resistentes ao tratamento e novos tratamentos antidepressivos, participa de discussões e reuniões acadêmicas sobre o assunto, buscando os últimos avanços na área para oferecer o melhor e mais moderno tratamento para seus pacientes.